segunda-feira, 25 de junho de 2012

Vainqueur - Elevations (1997)



























Não há como falar em dub techno sem mencionar o selo Basic Channel e seus muitos sucessores, encabeçados por Moritz von Oswald e Mark Ernestus, em Berlim. Comentar a importância dessas gravadoras exigiria uma postagem à parte, uma vez que a própria história delas se confunde com o surgimento e a consolidação do "gênero" dub techno. Além disso, Basic Channel designa não apenas a gravadora, mas também um dentre os muitos projetos da dupla alemã.

Por ora, contentemo-nos com a simples, porém quase inquestionável, constatação de que essas gravadoras apresentam um catálogo visceral, de qualidade ímpar, e que, a despeito disso, não é muito vasto. Basta considerarmos que ao selo Basic Channel, que operou entre 1993 e 1995, sucedeu-se uma série de filiais que, desde então, atuam num ritmo que tem muito a ver com a levada "morosa" do dub techno. Contido, discreto, esporádico. Não lançam nada desde 2008. 

No entanto, é notável que não sejam poucos os selos fundados pela dupla. Quais sejam: Basic Channel, Basic ReplayBurial MixChain ReactionFalse TunedImbalance RecordingsMain Street RecordsMaurizioRhythm & Sound. O mais prolífico, Chain Reaction, tem um rol de apenas 46 releases. 35 deles em vinil, o resto em CD.

Aqui vai um deles. A coletânea "Elevations", de 1997, do berlinense René Löwe, aqui sob o codinome Vainqueur. O CD reúne EPs lançados em vinil ("Solanus", "Reduce", "Elevation" e "Elevation II"), acrescendo-lhes uma bela faixa de abertura, que emoldura magistralmente o conjunto. 

Ouvir o disco de uma só sentada será desafiador para ouvidos impacientes, não habituados a viagens longas e verticais. Nove faixas extensas e repetitivas que, frequentemente beirando a exaustão, transitam obsessivamente em torno de algum ponto jamais longínquo. Mais que mero esforço minimalista, aqui temos uma abordagem radical, em composições de nudez e crueza desconcertantes. Com sua continência e pertinácia, René Löwe nos propõe um exercício de ascese, em que o despojamento de elementos e recursos (no ato da criação) e de preconceitos e resistências (no ato da escuta) são premissas necessárias no processo de elevação ("elevation") a que eles nos convida. Vai encarar?


quarta-feira, 20 de junho de 2012

June - One (2009)


Quando o assunto é dub techno, "One" é um dos meus EPs favoritos. June é um desses artistas obscuros, praticamente desconhecidos, que desaparecem tão logo surgem em cena, ou que realizam uma atuação tão discreta e recolhida que facilmente passam despercebidos.

A maneira pela qual eu o conheci deve-se puramente ao acaso. Foi em minhas andanças pelo MySpace, alguns anos atrás, quando este ainda parecia um espaço de interesse. Não me recordo exatamente como nem por quê, o fato é que, estando à deriva, acabei atracando em sua página e fiquei impressionado com o que ouvi: um techno taciturno, porém deveras elegante. 

"One", lançado em 2009 pela Moodgadget, é o único dentre seus releases que consegui baixar. E não foi nada fácil consegui-lo; lembro-me de exaustivas buscas pelo Google afora. Não é por menos. NDiscogs, o EP sequer está registrado entre os lançamentos da Moodgadget. Além disso, "June" é um codinome genérico e profuso demais, que, justamente por isso, dá margem a equívocos (como esse, por exemplo). Basta digitar "June" na busca do Discogs, e dezenas de artistas, bandas e projetos serão listados. Qual deles o June que nos concerne?

Enfim, vamos ao que interessa. 

O que esse EP, de apenas quatro faixas, possui de tão especial? Difícil responder. Não nego o fato de que minhas preferências estejam fundadas muito mais frequentemente em critérios subjetivos do que em fatores objetivos. Só posso dizer que "One" apresenta composições de uma simplicidade admirável, que desconhecem soluções espetaculares, porque só aceitam alterações gradativas. June opera numa paleta de cores bem restrita. Seus acordes são como os tons acinzentados da capa, gradações entre o preto e o branco: alternam-se em sequências quase monocromáticas, que soariam tediosas se não fosse pela minuciosa "melodia de timbres" que ele soube estabelecer. 

Em "Languor", a primeira faixa, batidas pulsantes se fundem ao baixo numa camada profunda, que respira langorosa porém decididamente, mesmo quando entrecortada por linhas percussivas mais ágeis ou pelos sons metálicos que reverberam e ecoam em cadências não raro estranhas ao andamento da música. Em "Caliginous", quiçá a melhor realização do conjunto, em menos de 40 segundos estamos diante de todos os elementos que, digamos assim, dão o "tema" da composição, e o que vem a seguir é mais ou menos previsível. Contudo, o ouvinte sensível saberá perceber certas sutilezas, diminutos acontecimentos que se dão nas regiões mais discretas da paisagem, fazendo de cada audição uma experiência única ("one").

Em suma, o que tanto surpreende nesse EP é o nervosismo contido, o minimalismo austero, a não-exuberância. Uma sonoridade caliginosa que, no entanto, jamais se transforma em expressão estereotipada ou grotesca. June sabe equilibrar obstinação com sensatez; seu aspecto é sombrio, mas apenas vagamente. Ouvi-lo será uma experiência tão monótona e melancólica quanto plena de possíveis pequenas descobertas, e, portanto, de alguma forma reconfortante.



segunda-feira, 18 de junho de 2012

Brendon Moeller - Works (2012)


























Excelente lançamento da Electric Deluxe, selo fundando por Jochem Paap, mais conhecido pela alcunha de Speedy J, com a qual se tornou conhecido e amplamente respeitado no âmbito da música eletrônica.

Brendon Moeller vive em Nova Iorque e, desde 2006, já produziu uma dúzia de EPs que foram distribuídos por diversos selos. "Works", de 2012, é seu primeiro álbum. Como sugere o título de uma de suas melhores faixas ("Take A Dive Into The Sound"), o álbum propõe uma experiência imersiva, embalada por ritmos hipnóticos e batidas insistentes que, apesar de repetitivas, jamais soam arbitrárias. Pelo contrário. O fato de existir uma constante dentro da composição permite que se justaponham a ela elementos que contrastam com a estrutura rítmica dominante, instaurando um instigante jogo de tensões. É o que acontece claramente em faixas como "Wrong Writings" ou "Off The Grid", cujos nomes já assinalam esse procedimento. O bate-estaca obstinado é entrecortado por sons que reverberam além do espaço geométrico da batida principal, sugerindo uma paisagem etérea e entorpecente. Que combina muito bem com os timbres metálicos e o uso exaustivo de reverb e delay, tão característicos das produções de dub techno.

Brendon Moeller alcança a maior proeza que um produtor de techno pode almejar, que é a de extrair informação nova a partir da repetição e da redundância.