domingo, 25 de novembro de 2012

Function - Obsessed EP (2012)



























Produzido por David Summer, aqui sob alcunha de Function, "Obsessed" é um belo single. E trata-se mesmo de uma obsessão, uma compulsão pela repetição. O single apresenta um loop já utilizado numa reinterpretação de "Immolare", uma das mais belas composições do Sandwell District (projeto em parceria de David "Function" Summer e Karl "Regis" O'Connor). Remixes de Substance e Scuba. 

Function - Obsessed EP (2012)
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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Maurizio - Ploy (1992)


Presumivelmente, Maurizio é um anagrama formado a partir dos nomes Moritz von Oswald e Mark Ernestus, já assinalados aqui como os grandes precursores do dub techno. "Ploy", de 1992, é o primeiro de uma série de EPs que fariam história ao equacionar techno e dub numa singular abordagem minimalista, tão despojada quanto rigorosa. 

O EP apresenta duas composições originais e, após um breve interlúdio, um efervescente remix da faixa-título creditado ao coletivo Underground Resistance. Imperdível. 

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Pole - Waldgeschichten (2011-2012)


Pole é Stefan Betke, engenheiro de masterização e produtor berlinense, conhecido por mesclar dub techno e glitch. Seguem, num só arquivo, três EPs lançados dentro do mesmo eixo temático ("Waldgeschichten", histórias de floresta). 

E atenção: juntamente com artistas de peso como Actress, Pole se apresenta no Brasil em dezembro de 2012, no festival Novas Frequências.  


segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Paul St. Hilaire & René Löwe - Faith (2003)



























Também conhecido como Tikiman, codinome que foi aposentado por razões legais, Paul St. Hilaire ocupa uma posição singular no panorama recente da música eletrônica. Produtor e cantor, colaborou diversas vezes com os mais variados artistas do cenário eletrônico. Seus vocais podem ser ouvidos em parcerias com nomes de peso, tais como Deadbeat, Intrusion, Moderat, Rhythm & Sound, entre outros. Daí o mérito do vocalista caribenho: o de consagrar sua voz num universo em que predominam as produções instrumentais, a pura linguagem sonora em detrimento da palavra.

Aqui temos uma parceria notável. "Faith", single produzido por René Löwe, mais conhecido como Vainqueur, lançado pelo selo False Tuned, subsidiário do selo Basic Channel. Trata-se de uma composição de longa duração, muito bem realizada, em que a levada "desacelerada" do dub techno casa agradavelmente com a voz de Paul St. Hilaire, trazendo à tona as raízes ancestrais do reggae. Embora menos interessante que a versão original, o disco também contém uma versão instrumental ("No Vox") do single. Ouvi-la, ali onde Paul St. Hilaire se cala, só confirma a grandeza do vocalista caribenho; sem a voz, a mixagem parece oca - uma lacuna que evoca, pela ausência, os vocais de Paul St. Hilaire. Masterização por Moritz von Oswald.

Paul St. Hilaire & René Löwe - Faith (2003)
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sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Shinichi Atobe - Ship-Scope (2001)



























Mais um artista obscuro: Shinichi Atobe. Lançado em 2001 pelo selo Chain Reaction, "Ship-Scope" é uma pérola tão sucinta quanto bem acabada. São quatro faixas em que dub techno e ambient se combinam em composições delicadas e cuidadosamente arranjadas. Timbres suaves, ruídos sutis, progressões harmônicas discretas, porém consistentes, capazes de engendrar atmosferas acolhedoras e, sem exagero, agradáveis. Destaque para "Red Line", a pedra de toque que encerra o EP. Obra-prima.

Supostamente, Shinichi Atobe é pseudônimo, e não se sabe quem se esconde por detrás dele. Sabe-se apenas que sua produção discográfica se restringe a esse belo vinil de 12 polegadas, cuja duração não ultrapassa dezenove minutos. Parece pouco, mas não é. Pois aqui vale o ditado: less is more. 

Shinichi Atobe - Ship-Scope (2001)
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quarta-feira, 4 de julho de 2012

Basic Channel - BCD-2 (2008)



























Embora tenha existido por apenas dois anos, o selo Basic Channel teve uma importância inestimável na história recente da música eletrônica. Comandado pela dupla Moritz von Oswald e Mark Ernestus, o selo atou entre 1993 e 1995, tendo lançado nesse período 9 EPs em vinil e uma coletânea em CD. Apesar de exíguo, esse material possui o mérito de ter apresentado ao mundo uma sonoridade nova, o dub techno, que transpôs estilos e fronteiras, mesclando techno europeu com techno de Detroit, e o mais surpreendente: graças à influência de uma música de ascendência jamaicana, o dub.

Em 1995, o selo entrou em recesso, dando lugar a selos de orientação similar, também fundados por Moritz e Ernestus, e, desde então, foram raríssimas as vezes em que o selo deu o ar da graça. A saber: e
m 2004, quando menos se esperava, e sem qualquer alarde, o selo lançou dois EPs em vinil e, em 2008, a coletânea "BCD-2", que reúne 6 composições clássicas da dupla Basic Channel, organizadas em ordem cronológica, nenhuma delas presentes na compilação "BCD", de 1995, e todas elas realizações memoráveis, indispensáveis para entusiastas do techno. São composições de um despojamento radical, em que a própria ausência de ornamentação é um elemento estrutural da música; nelas, tudo é essencial, cada gesto, cada escolha; nada é meramente decorativo, tampouco arbitrário. 

Em tempo: mês passado a loja virtual 
Bleep, filiada à Warp, disponibilizou para venda a coletânea A Guide To Electronic Music. São 55 faixas que mapeiam a evolução da música eletrônica de seus primórdios aos dias atuais, em composições que cobrem 73 anos de história (1937-2010). O guia impressiona pela abrangência e amplitude, estendendo-se dos primeiros experimentos eletrônicos, que se deram no âmbito da música erudita, até desdobramentos mais recentes, como o dubstep. Em que pesem ausências notáveis (Kraftwerk, Steve Reich, Wendy Carlos, Giorgio Moroder), vale a pena conferir o conjunto. Basic Channel está presente, com "Phylyps Trak", representando o gênero de que foi pioneiro.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Vainqueur - Elevations (1997)



























Não há como falar em dub techno sem mencionar o selo Basic Channel e seus muitos sucessores, encabeçados por Moritz von Oswald e Mark Ernestus, em Berlim. Comentar a importância dessas gravadoras exigiria uma postagem à parte, uma vez que a própria história delas se confunde com o surgimento e a consolidação do "gênero" dub techno. Além disso, Basic Channel designa não apenas a gravadora, mas também um dentre os muitos projetos da dupla alemã.

Por ora, contentemo-nos com a simples, porém quase inquestionável, constatação de que essas gravadoras apresentam um catálogo visceral, de qualidade ímpar, e que, a despeito disso, não é muito vasto. Basta considerarmos que ao selo Basic Channel, que operou entre 1993 e 1995, sucedeu-se uma série de filiais que, desde então, atuam num ritmo que tem muito a ver com a levada "morosa" do dub techno. Contido, discreto, esporádico. Não lançam nada desde 2008. 

No entanto, é notável que não sejam poucos os selos fundados pela dupla. Quais sejam: Basic Channel, Basic ReplayBurial MixChain ReactionFalse TunedImbalance RecordingsMain Street RecordsMaurizioRhythm & Sound. O mais prolífico, Chain Reaction, tem um rol de apenas 46 releases. 35 deles em vinil, o resto em CD.

Aqui vai um deles. A coletânea "Elevations", de 1997, do berlinense René Löwe, aqui sob o codinome Vainqueur. O CD reúne EPs lançados em vinil ("Solanus", "Reduce", "Elevation" e "Elevation II"), acrescendo-lhes uma bela faixa de abertura, que emoldura magistralmente o conjunto. 

Ouvir o disco de uma só sentada será desafiador para ouvidos impacientes, não habituados a viagens longas e verticais. Nove faixas extensas e repetitivas que, frequentemente beirando a exaustão, transitam obsessivamente em torno de algum ponto jamais longínquo. Mais que mero esforço minimalista, aqui temos uma abordagem radical, em composições de nudez e crueza desconcertantes. Com sua continência e pertinácia, René Löwe nos propõe um exercício de ascese, em que o despojamento de elementos e recursos (no ato da criação) e de preconceitos e resistências (no ato da escuta) são premissas necessárias no processo de elevação ("elevation") a que eles nos convida. Vai encarar?


quarta-feira, 20 de junho de 2012

June - One (2009)


Quando o assunto é dub techno, "One" é um dos meus EPs favoritos. June é um desses artistas obscuros, praticamente desconhecidos, que desaparecem tão logo surgem em cena, ou que realizam uma atuação tão discreta e recolhida que facilmente passam despercebidos.

A maneira pela qual eu o conheci deve-se puramente ao acaso. Foi em minhas andanças pelo MySpace, alguns anos atrás, quando este ainda parecia um espaço de interesse. Não me recordo exatamente como nem por quê, o fato é que, estando à deriva, acabei atracando em sua página e fiquei impressionado com o que ouvi: um techno taciturno, porém deveras elegante. 

"One", lançado em 2009 pela Moodgadget, é o único dentre seus releases que consegui baixar. E não foi nada fácil consegui-lo; lembro-me de exaustivas buscas pelo Google afora. Não é por menos. NDiscogs, o EP sequer está registrado entre os lançamentos da Moodgadget. Além disso, "June" é um codinome genérico e profuso demais, que, justamente por isso, dá margem a equívocos (como esse, por exemplo). Basta digitar "June" na busca do Discogs, e dezenas de artistas, bandas e projetos serão listados. Qual deles o June que nos concerne?

Enfim, vamos ao que interessa. 

O que esse EP, de apenas quatro faixas, possui de tão especial? Difícil responder. Não nego o fato de que minhas preferências estejam fundadas muito mais frequentemente em critérios subjetivos do que em fatores objetivos. Só posso dizer que "One" apresenta composições de uma simplicidade admirável, que desconhecem soluções espetaculares, porque só aceitam alterações gradativas. June opera numa paleta de cores bem restrita. Seus acordes são como os tons acinzentados da capa, gradações entre o preto e o branco: alternam-se em sequências quase monocromáticas, que soariam tediosas se não fosse pela minuciosa "melodia de timbres" que ele soube estabelecer. 

Em "Languor", a primeira faixa, batidas pulsantes se fundem ao baixo numa camada profunda, que respira langorosa porém decididamente, mesmo quando entrecortada por linhas percussivas mais ágeis ou pelos sons metálicos que reverberam e ecoam em cadências não raro estranhas ao andamento da música. Em "Caliginous", quiçá a melhor realização do conjunto, em menos de 40 segundos estamos diante de todos os elementos que, digamos assim, dão o "tema" da composição, e o que vem a seguir é mais ou menos previsível. Contudo, o ouvinte sensível saberá perceber certas sutilezas, diminutos acontecimentos que se dão nas regiões mais discretas da paisagem, fazendo de cada audição uma experiência única ("one").

Em suma, o que tanto surpreende nesse EP é o nervosismo contido, o minimalismo austero, a não-exuberância. Uma sonoridade caliginosa que, no entanto, jamais se transforma em expressão estereotipada ou grotesca. June sabe equilibrar obstinação com sensatez; seu aspecto é sombrio, mas apenas vagamente. Ouvi-lo será uma experiência tão monótona e melancólica quanto plena de possíveis pequenas descobertas, e, portanto, de alguma forma reconfortante.



segunda-feira, 18 de junho de 2012

Brendon Moeller - Works (2012)


























Excelente lançamento da Electric Deluxe, selo fundando por Jochem Paap, mais conhecido pela alcunha de Speedy J, com a qual se tornou conhecido e amplamente respeitado no âmbito da música eletrônica.

Brendon Moeller vive em Nova Iorque e, desde 2006, já produziu uma dúzia de EPs que foram distribuídos por diversos selos. "Works", de 2012, é seu primeiro álbum. Como sugere o título de uma de suas melhores faixas ("Take A Dive Into The Sound"), o álbum propõe uma experiência imersiva, embalada por ritmos hipnóticos e batidas insistentes que, apesar de repetitivas, jamais soam arbitrárias. Pelo contrário. O fato de existir uma constante dentro da composição permite que se justaponham a ela elementos que contrastam com a estrutura rítmica dominante, instaurando um instigante jogo de tensões. É o que acontece claramente em faixas como "Wrong Writings" ou "Off The Grid", cujos nomes já assinalam esse procedimento. O bate-estaca obstinado é entrecortado por sons que reverberam além do espaço geométrico da batida principal, sugerindo uma paisagem etérea e entorpecente. Que combina muito bem com os timbres metálicos e o uso exaustivo de reverb e delay, tão característicos das produções de dub techno.

Brendon Moeller alcança a maior proeza que um produtor de techno pode almejar, que é a de extrair informação nova a partir da repetição e da redundância.